quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Análise gramatical de um sentimento

Amar não se conjuga no imperativo.

Ao amor amigo, cúmplice e construído entre iguais, fundação indispensável de uma relação sólida e duradoura, a esse amor com futuro mesmo quando o seu passado é recente, opõe-se a paixão avulso, esse sentimento volátil que vive o presente sem amanhã, esse fogacho breve que esbarra nas contrariedades ou se apaga após a concretização.

Além, é um outro país, o dos que não amam - aqueles para quem o amor é perda de tempo, ou mágoa, ou nada. Esses não conjugam, não vivem o verbo na pele. No seu mundo o verbo foi banido.

Amar, tal como chover, não se conjuga no imperativo.
Não posso ordenar que alguém me ame, tal como não posso ordenar que chova.
Mas dou por mim a sonhar no condicional, o sentimento suspenso naquilo que o embala e o abafa - este silêncio entre nós, que não devo, não ouso quebrar.
E, envolta nos sons delicados da fantasia, dos meus lábios escapa-se um murmúrio que só eu ouço.
Se eu te contasse...
se tu soubesses...

domingo, 6 de setembro de 2015

Tão perto, tão longe

Não sei o teu sofrimento de perto, mas sei que sofres.
Não sei a tua dor de perto, mas sei que dói
muito, e que nada posso fazer
para te ajudar.

Quisera dar-te mais do que palavras,
estender-te a mão, estreitar-te contra o peito
e dizer-te baixinho "Estou aqui."
ou nem dizer nada
e partilhar apenas essa dor
agigantada, que escapa
ao consolo de quem não a tem como sua.

São só palavras o que te posso dar.
Mas aqui, tão perto e ao mesmo tempo tão longe,
quero que saibas que não estás só.