terça-feira, 30 de maio de 2017

Tempestades

"Quem foi que provocou vontades
e atiçou as tempestades 
e amarrou o barco ao cais? 

Quem foi que matou o desejo
e arrancou o lábio ao beijo 
e amainou os vendavais?" 



sexta-feira, 26 de maio de 2017

Nós

Imaginas o que me apetecia agora?
Estava capaz de largar tudo, meter-me no carro, fazer uma rápida paragem em casa para buscar algumas coisas (mais uma paragem para te apanhar, se quisesses) e finalmente rumar a um pinhal - no Magoito, ou São Julião, por exemplo.
E nem me iria preocupar com lagartas.


Abriria então a sacola trazida de casa: garrafas de água, tupperwares a escorrer condensação, um top de desporto, livros, toalha de praia, calções, chinelos e um embrulho rústico de aspecto duro e pesado. Ao desenrolar o embrulho, uma lona rectangular, pesada e colorida, com os lados mais estreitos presos em barrote de madeira perfurados e amarrados com corda de sisal grossa.

Depois, pegar numa extremidade da lona, desenrolar as cordas e amarrá-las à volta de um pinheiro, com voltas reforçadas sobre voltas e nós fortes. E fazer o mesmo à outra ponta, tudo bem preso e amarrado com nós de marinheiro.

Finalmente, trocar a roupa de adulta de meia-idade (uma senhora!? supostamente) civilizada pelas de uma gaiata despreocupada e semi-selvagem como fui há tantos anos. As calças compridas pelos calções de ganga meio esfarrapados, a blusa sóbria pelo top colorido, os sapatos elegantes mas confortáveis pelos chinelos ainda mais confortáveis.

Espreguiçar-me, sentir o cheiro do pinhal misturado com o do mar, abrir bem os braços para abarcar tudo o que me rodeia (tudo incluindo tu, se lá estivesses) e respirar bem fundo.

Finalmente, com uma toalha de praia dobrada a fazer de travesseiro, um livro, mais um tupperware cheio de morangos e uvas, estender-me na cama de lona e des-con-tra-ir balouçando levemente na brisa.

Se tivesses decidido vir seria diferente, mas não muito. A lona teria de ser amarrada com mais força, nós mais fortes para nos suportar a nós, e é provável que fossem necessários mais víveres. Mas, em vez de fazer de uma toalha o meu travesseiro, o meu ninho seria o teu ombro e balouçaria embalada nos teus braços.

Nós, juntos, e paz para simplesmente estar.
Nada mais seria necessário.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Segredos

Hoje em dia, tudo é digital; até os segredos.

É por isso que guardo na agenda uma imagem do teu sorriso que, quando sei que ninguém me vê, observo demoradamente
hoje, o nariz
amanhã, os olhos, as sobrancelhas. pestanas.

focando, ampliando, fixando cada sinal ou poro até conhecer os teus detalhes.

Mas o ponto ao qual regresso uma e outra e outra vez são os teus lábios.
Como pequenos morangos maduros hipnotizam-me, fazendo crescer em mim a vontade inconfessável, o desejo inadmissível de tos morder. Estendo os dedos e...

Sou uma menina bem comportada. Suspirando, guardo o desejo e pressiono a tecla do retorno.
O ecrã escurece, tenho a boca seca. Há coisas que devem ser mantidas em segredo.

À noite, ao apagar a luz, humedeço os lábios e sorrio.
Mal a escuridão se instale a minha mente encher-se-á de bites e bytes.
Em segredo.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Unexpected

Vou contar-te um segredo...
Sabes? Gosto de surpresas.
Mas, calma! Só gosto das que me fazem sorrir, ou rir como tola no meio da rua.
Não gosto das outras, as que me fazem ter vontade de gritar ou fugir para bem longe.

Gosto das surpresas que transformam o coração num pássaro pequeno, esvoaçante e que bate as asas na gaiola do peito como se quisesse sair.

Gosto das surpresas que me agigantam o coração e me enchem o estômago de borboletas, mesmo que às vezes me deixem lágrimas nos olhos, as bandidas.

Gosto de sair à rua e encontrar à minha espera quem me arranque sorrisos, e me cale as perguntas com um beijo, e me faça achar que o sol brilha radioso no céu azul, mesmo sob a chuva mais intensa.

Gosto de ser surpreendida por quem me sorria com os olhos e não precise de dizer nada.
Que me abrace, apenas, com força; e me faça sentir em casa.

Diz-me, quando é que me fazes uma surpresa?

terça-feira, 16 de maio de 2017

Nightstorm

O mar antes sereno encrespa-se.
Baloiçamos ao ritmo
das ondas em crescendo
com as mãos inquietas
na busca do infinito.

Vem cá. Despe-me
as palavras, uma a uma
Segura-me a sombra que teima em fugir
e entre os dentes com que
me rasgas as páginas
saboreia o mais profundo da minha alma.

A tempestade chega
no grito das gaivotas
um relâmpago fende a noite,
e a espuma cobre por fim os rochedos
na base do farol.

Tomados pelo cansaço, tornamo-nos conchas
à espera da luz dourada do amanhecer.

domingo, 14 de maio de 2017

Unattachment

"When we can approach love as an offering, regardless whether the beloved accepts or reciprocates it, we bask in the essence of what it truly means to care for another, apart from our own needs and wants.
Unattachment in love means acknowledging our feelings for another, regardless of action, choice or result. This may be the most real type of love."

extraído daqui.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Challenge

Forget your fears.
Silence your inner demons.
Here, take my hand.
Let's dare to find out where this could go.
Let's take a chance.



Who knows?
Maybe, eventually, we could be happy.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Ictus Cordis

Visto-me de silêncio, e na ponta do coração guardo todo o sentimento, toda a esperança, todo o sonho.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Palavras de outros

“O amor assusta o medo. As palavras que te digo vêm de longe. Passam por mim como se não fosse ninguém. São flechas a rasgar o ar em volta. As palavras que te escrevo são tuas muito antes de serem minhas. És tu que as escreves em mim. Por debaixo da pele.”

Pedro Paixão*