quarta-feira, 23 de agosto de 2017

A middle aged love letter

My beloved,

You are not the half I seek, because I do not need another half to complete me; I am whole.
But you make more of me: more aware of the world and myself, more courageous in attitudes, with more strength to face days when everything seems to go wrong, more compassionate towards others, more interested in causes that transcend me.
More human, maybe.
Less egocentric for sure.

I love (more of) myself while I'm with you and since you've entered my life.
It is as if your serenity was contagious, allowing me to slow down and embrace more of what surrounds me with a deeper look.
It is as if, looking at the stars, I ceased to think only of black holes and my own smallness and instead stare in awe at the existence of galaxies and all possibilities.

With you I (re)discover resilience, but also hope, especially that we can try to leave our children a world, if not better per se, at least more capable of correcting the mistakes of past generations and ours. And I (re)discover the importance of giving my best even in the smallest things, regardless of others considering them insignificant

With you I feel like a better and more capable Human Being.
I admire you for what you are, for your faith in human kind, in learning and in the ability of making a difference, even when so many things show up in your way to make you stumble.
I love all of this in you, and I can love myself more, for what I am becoming as you show me what is that is possible to be.

I love you, not with the angst of teenagers, or the anxiety of making everything right of the young adults we both were once, but with the tranquility of those who know who they are and yet know they can go much further.

The awareness of mortality, of the finitude of human life and of the countless factors that can shorten it do not drive me to rush or fear, but rather increase my awe at something as simple and yet as sublime as Love. And also gratitude for being able to live it and appreciate it with the enriched emotional capacity which was given to me by age and that you have made to increase.

I love you like the sea - for the sea is as old as the world itself and at the same time it is all of its parts, from the placid bays to the deep abysses, from the stormy tides to the playful surf of waves on the beach, and can both affront cliffs or spread lazily on the sands.

I love you, simply and completely.
And although I go to sleep every night longing for your arms, I wake up every morning thankful for your presence in my life.

Always.



segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Saudade

Guardo-te no coração (já o sabias): aqui junto da aorta, de onde o sangue te leva ao resto do meu corpo uma vez e outra, e outra, num ciclo permanente, vital.
Mas faltas-me, na boca deserta do teu beijo e em todo o lado onde a pele guarda a memória da tua.

 

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Drifting

Perdida num mar opaco
sob as estrelas indiferentes
observo o azimute corrompido

(não sei para onde ir a partir daqui)
A cor esvaiu-se no horizonte
e o vento, em fúria, levou
a esperança de te rever
(a dor, a dor rouba-me as forças)

Desalentada, deito-me no convés
e adormeço à sombra
dos amanhãs vazios de ti.

P.S.
Seria mais fácil se conseguisse chorar,
fazer o luto pelo que ficou pelo caminho;
mas a frieza cirúrgica com que te afastaste
cortou-me a linha central
entre o coração e os olhos.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Incerteza


O que faço?
Para onde me viro
Se a toda a volta só há espaços
onde não estás?


E os lábios curvam-se
num sorriso de incerteza.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

The Greatest

Melt me down
Into big black armour
Leave no trace of grace
Just in your honor
Lower me down
To culprit south
Make 'em wash a space in town
For the lead
And the dregs of my bed
I've been sleeping
Lower me down
Pin me in
Secure the grounds
For the later parade


Once I wanted to be the greatest
Two fists of solid rock
With brains that could explain
Any feeling



Lower me down
Pin me in
Secure the grounds
For the lead
And the dregs of my bed
I've been sleeping
For the later parade

Once I wanted to be the greatest
No wind or waterfall could stall me
And then came the rush of the flood
The stars at night turned deep to dust

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Espaço

Faltas-me aqui,
no intervalo entre os braços estendidos...
rente ao peito, onde o coração
pulsa, violentamente,
o teu nome.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

[Palavras de outros] - Il Bacio

Il bacio appena sognato
in una notte di tradimenti,
dove tutti consumano amplessi
che non hanno profumo,
il tuo bacio febbricitante,
il candore delle tue labbra,
somiglia alla mia porta
che non riesco ad aprire.
Il bacio è come una vela,
fa fuggire lontano gli amanti,
un amore che non ti gela
che ti dà mille duemila istanti.
Ho cercato di ricordare
che potevi tornare indietro,
ma ahimè il tuo bacio
è diventato simile a un vetro.
Io come un animale
mi rifugio nel bosco
per non lasciare ovunque
il mio candido pelo.
Il pelo della mia anima
è così bianco e così delicato
che persino un coniglio ne trema.
Tu mi domandi quanti amanti ho avuto
e come mi hanno scoperto.
Io ti dico che ognuno scopre la luce
e ognuno sente la sua paura,
ma la mia parte più pura è stata il bacio.
Io tornerei sui monti d’Abruzzo,
dove non sono mai stata.
Ma se mi domandano
dove traggono origine i miei versi,
io rispondo:
mi basta un’immersione nell’anima
e vedo l’universo.
Tutti mi guardano con occhi spietati,
non conoscono i nomi delle mie scritte sui muri
e non sanno che sono firme degli angeli
per celebrare le lacrime che ho versato per te.

(Alda Merini)

Pálido ponto azul

Tenho um terraço, daqueles no topo do prédio e tudo, mas a vista lá de cima não é nada de especial.
Às vezes vejo aviões militares a passar. Mas só às vezes, porque habitualmente voam bem lá no alto e só lhes ouvimos o ruído do motor.

Em dez anos, devo poder contar pelos dedos a quantidade de tardes sem vento naquele local e que coincidiram com fins de semana ou dias de férias; que é o mesmo que dizer, a quantidade de vezes em que pude acender o grelhador a carvão. Só o fiz 3 ou 4 vezes, afinal. Isso diz muito sobre o vento, mas nada sobre outros factores.

A verdade é que, de há alguns anos a esta parte deixei, praticamente, de ir ao terraço.
Durante o dia a vista não é nada de especial, como disse. E está vento, mesmo quando o céu está limpo e azul. Seria diferente se tivesse vista para o mar. Aí, nem vento nem chuva me arredariam do sítio de onde os meus olhos poderiam procurar paz.


À noite é diferente.
Nos dias quentes, depois de um horas de sol a bater nos mosaicos do chão, o vento parece pouco mais do que uma aragem. Ou então é mesmo pouco mais do que uma aragem, e até sabe bem.


O terraço tem um parapeito sólido, uma barreira eficaz à poluição luminosa oriunda da rua lá em baixo - mas só se nos sentarmos no chão, sentindo o mosaico ainda a irradiar o calor acumulado durante o dia. O terraço torna-se então um óptimo posto de observação do céu nocturno.
E é exactamente por isso que agora é raro ir para lá - a menos que estejamos em tempo de Aquáridas, Perseidas ou Oriónidas.
Porque perder os olhos na imensidão do céu, nas incontáveis estrelas acima de mim, fazem-me sentir o peso da minha pequenez e insignificância.
Eu, com todos os meus sonhos, desejos e medos, não passo de um micróbio entre sete mil milhões de micróbios correndo, vivendo e morrendo num pequeno e pálido ponto azul no quintal de uma galáxia entre milhões de galáxias.

Olhar para o céu, à noite no terraço, é olhar para o infinito.
E isso faz-me sentir infinitamente só.


terça-feira, 30 de maio de 2017

Tempestades

"Quem foi que provocou vontades
e atiçou as tempestades 
e amarrou o barco ao cais? 

Quem foi que matou o desejo
e arrancou o lábio ao beijo 
e amainou os vendavais?" 



sexta-feira, 26 de maio de 2017

Nós

Imaginas o que me apetecia agora?
Estava capaz de largar tudo, meter-me no carro, fazer uma rápida paragem em casa para buscar algumas coisas (mais uma paragem para te apanhar, se quisesses) e finalmente rumar a um pinhal - no Magoito, ou São Julião, por exemplo.
E nem me iria preocupar com lagartas.


Abriria então a sacola trazida de casa: garrafas de água, tupperwares a escorrer condensação, um top de desporto, livros, toalha de praia, calções, chinelos e um embrulho rústico de aspecto duro e pesado. Ao desenrolar o embrulho, uma lona rectangular, pesada e colorida, com os lados mais estreitos presos em barrote de madeira perfurados e amarrados com corda de sisal grossa.

Depois, pegar numa extremidade da lona, desenrolar as cordas e amarrá-las à volta de um pinheiro, com voltas reforçadas sobre voltas e nós fortes. E fazer o mesmo à outra ponta, tudo bem preso e amarrado com nós de marinheiro.

Finalmente, trocar a roupa de adulta de meia-idade (uma senhora!? supostamente) civilizada pelas de uma gaiata despreocupada e semi-selvagem como fui há tantos anos. As calças compridas pelos calções de ganga meio esfarrapados, a blusa sóbria pelo top colorido, os sapatos elegantes mas confortáveis pelos chinelos ainda mais confortáveis.

Espreguiçar-me, sentir o cheiro do pinhal misturado com o do mar, abrir bem os braços para abarcar tudo o que me rodeia (tudo incluindo tu, se lá estivesses) e respirar bem fundo.

Finalmente, com uma toalha de praia dobrada a fazer de travesseiro, um livro, mais um tupperware cheio de morangos e uvas, estender-me na cama de lona e des-con-tra-ir balouçando levemente na brisa.

Se tivesses decidido vir seria diferente, mas não muito. A lona teria de ser amarrada com mais força, nós mais fortes para nos suportar a nós, e é provável que fossem necessários mais víveres. Mas, em vez de fazer de uma toalha o meu travesseiro, o meu ninho seria o teu ombro e balouçaria embalada nos teus braços.

Nós, juntos, e paz para simplesmente estar.
Nada mais seria necessário.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Segredos

Hoje em dia, tudo é digital; até os segredos.

É por isso que guardo na agenda uma imagem do teu sorriso que, quando sei que ninguém me vê, observo demoradamente
hoje, o nariz
amanhã, os olhos, as sobrancelhas. pestanas.

focando, ampliando, fixando cada sinal ou poro até conhecer os teus detalhes.

Mas o ponto ao qual regresso uma e outra e outra vez são os teus lábios.
Como pequenos morangos maduros hipnotizam-me, fazendo crescer em mim a vontade inconfessável, o desejo inadmissível de tos morder. Estendo os dedos e...

Sou uma menina bem comportada. Suspirando, guardo o desejo e pressiono a tecla do retorno.
O ecrã escurece, tenho a boca seca. Há coisas que devem ser mantidas em segredo.

À noite, ao apagar a luz, humedeço os lábios e sorrio.
Mal a escuridão se instale a minha mente encher-se-á de bites e bytes.
Em segredo.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Unexpected

Vou contar-te um segredo...
Sabes? Gosto de surpresas.
Mas, calma! Só gosto das que me fazem sorrir, ou rir como tola no meio da rua.
Não gosto das outras, as que me fazem ter vontade de gritar ou fugir para bem longe.

Gosto das surpresas que transformam o coração num pássaro pequeno, esvoaçante e que bate as asas na gaiola do peito como se quisesse sair.

Gosto das surpresas que me agigantam o coração e me enchem o estômago de borboletas, mesmo que às vezes me deixem lágrimas nos olhos, as bandidas.

Gosto de sair à rua e encontrar à minha espera quem me arranque sorrisos, e me cale as perguntas com um beijo, e me faça achar que o sol brilha radioso no céu azul, mesmo sob a chuva mais intensa.

Gosto de ser surpreendida por quem me sorria com os olhos e não precise de dizer nada.
Que me abrace, apenas, com força; e me faça sentir em casa.

Diz-me, quando é que me fazes uma surpresa?

terça-feira, 16 de maio de 2017

Nightstorm

O mar antes sereno encrespa-se.
Baloiçamos ao ritmo
das ondas em crescendo
com as mãos inquietas
na busca do infinito.

Vem cá. Despe-me
as palavras, uma a uma
Segura-me a sombra que teima em fugir
e entre os dentes com que
me rasgas as páginas
saboreia o mais profundo da minha alma.

A tempestade chega
no grito das gaivotas
um relâmpago fende a noite,
e a espuma cobre por fim os rochedos
na base do farol.

Tomados pelo cansaço, tornamo-nos conchas
à espera da luz dourada do amanhecer.

domingo, 14 de maio de 2017

Unattachment

"When we can approach love as an offering, regardless whether the beloved accepts or reciprocates it, we bask in the essence of what it truly means to care for another, apart from our own needs and wants.
Unattachment in love means acknowledging our feelings for another, regardless of action, choice or result. This may be the most real type of love."

extraído daqui.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Challenge

Forget your fears.
Silence your inner demons.
Here, take my hand.
Let's dare to find out where this could go.
Let's take a chance.



Who knows?
Maybe, eventually, we could be happy.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Ictus Cordis

Visto-me de silêncio, e na ponta do coração guardo todo o sentimento, toda a esperança, todo o sonho.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Palavras de outros

“O amor assusta o medo. As palavras que te digo vêm de longe. Passam por mim como se não fosse ninguém. São flechas a rasgar o ar em volta. As palavras que te escrevo são tuas muito antes de serem minhas. És tu que as escreves em mim. Por debaixo da pele.”

Pedro Paixão*

terça-feira, 25 de abril de 2017

Quotes that matter

 (from The Kindly Ones)

“Have you ever been in love? Horrible isn't it? It makes you so vulnerable. It opens your chest and it opens up your heart and it means that someone can get inside you and mess you up. You build up all these defenses, you build up a whole suit of armor, so that nothing can hurt you, then one stupid person, no different from any other stupid person, wanders into your stupid life...You give them a piece of you. They didn't ask for it. They did something dumb one day, like kiss you or smile at you, and then your life isn't your own anymore. Love takes hostages. It gets inside you. It eats you out and leaves you crying in the darkness, so simple a phrase like 'maybe we should be just friends' turns into a glass splinter working its way into your heart. It hurts. Not just in the imagination. Not just in the mind. It's a soul-hurt, a real gets-inside-you-and-rips-you-apart pain. I hate love.”



(from The Sandman)

“It is sometimes a mistake to climb; it is always a mistake never even to make the attempt. If you do not climb, you will not fall. This is true. But is it that bad to fail, that hard to fall?”

“You know what happens when you dream of falling? Sometimes you wake up.
Sometimes the fall kills you. And sometimes, when you fall, you fly.”

[Quotes are from Neil Gaiman's mentioned works]

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Alter procedure

Chocámos
na invisível fronteira
entre
a realidade e o sonho;
de repente e
sem saber como,
embrenhaste-te
si.len.ci.o.sa.men.te
nas linhas do meu código
(aninhaste-te na função onde diz
a que velocidade
me batem os ventrículos)

e assim,
de mansinho,
e de um dia
para o outro,
com indizível ternura,
noto que te levo comigo
para onde quer que vá...

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Momentos

Toda a vida é feita de momentos.
Sim, eu sei, soa a cliché mas é verdade.
O tempo flui e nós experimentamo-lo sob a forma de momentos sequenciais, pequenas peças num gigantesco puzzle que é o tecido das nossas vidas.
E, como em tudo, há-os bons e há-os maus.

Há momentos que nos levam aos píncaros de felicidade, e há momentos que nos deixam à beira de uma depressão. Há momentos que induzem circunspecção, enquanto outros originam reacções explosivas, sejam elas de alegria ou de fúria.

Há momentos passageiros. E há momentos que marcam.
Alguns, reconhecemos de imediato como o que são. Outros, temos de olhar para trás para perceber quando sucederam, porque estávamos distraídos ou focados noutra coisa qualquer.

"Life is what happens to us while we're making other plans."

Os momentos marcantes podem ser apenas isso, momentos. Ou podem ser o início de algo muito maior, quer seja bom ou mau. Podemos ser nós a criá-lo ou não.
Por vezes, quando é de imediato reconhecido como extraordinário, com o momento vem a esperança - de que não seja apenas um momento mas apenas o primeiro de muitos. Às vezes a esperança cumpre-se. E às vezes não.

Guarda esses momentos num bolso do coração, como pequenos tesouros. Se a esperança tiver onde se agarrar e de rebento frágil se tornar árvore frondosa, poderás sempre reconhecer esse primeiro momento e recordar "onde/quando tudo começou". Mas se a esperança morrer - arrancada de ti ou porque tenha apenas definhado em solo estéril - esse momento único, esse tesouro guardado no teu peito, pode ser só o que te resta, mas continuará a ser teu.

Nem sempre é fácil criar momentos; muitas vezes é preciso abrir a alma ao vento como quem dá o peito à espada, revelando-nos como seres vulneráveis quando preferiríamos estar escudados e protegidos. Mas se, com o pretexto da protecção, nos fecharmos em nós mesmos, que nos sobrará?

Não te deixes morrer de coração vazio.
Não fiques fechad@, calad@, sentad@ no escuro à espera que a vida aconteça, desejando que fosse diferente. Atreve-te a querer. A fazer. Cria momentos. Porque, no fim, mesmo que nada corra como desejarias, terás o coração cheio desses pequenos tesouros, e na recordação da vulnerabilidade que revelaste encontrarás força e um motivo para, apesar de tudo, sorrir.
E de coração cheio poderás dizer "eu atrevi-me. eu quis. eu vivi."
Quant@s poderão dizer o mesmo?

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Primavera

§ Este é um relato de como o sol reentrou na minha vida.§

Muito aconteceu de há um ano para cá.

Novos projectos, novos desafios, novas posturas, novos paradigmas, novas pessoas.
Um carrocel com muitos altos e baixos. Algumas batalhas, nem todas ganhas, mas em que me empenhei totalmente. Alguns momentos de acalmia, de placidez, de reflexão.
E muitos momentos em que atirei as mãos ao ar em exasperação, semi-clamando "mas o que raio é que falta acontecer?"

É que um ano, teoricamente (ou supostamente?) tem quatro estações, pelo menos nesta zona do berlinde azul. E este meu ano teve de tudo: princípios, meios e fins. Coisas que se arrastaram e coisas que acabaram, estiolando no verão ou gelando no inverno.
Daí que, quando voltou o equinócio, embora ainda com uma réstia de esperança eu me sentisse pouco optimista.
Mas o karma lá terá achado que estava na altura de algo diferente - talvez porque já era tempo, ou talvez porque eu tenha entrado numa de decluttering e começado a optar por coisas mais simples e (muito mais) ao meu gosto.
Numa etapa dessa jornada decidi que precisava de cadeirões novos e comecei a procurá-los... mas nada me encantava. Achava alguns bonitos mas não tinham aquele não-sei-o-quê que me fizesse dizer "é isto!!!"
Até que os encontrei, num anúncio: usados mas em bom estado, de uma madeira exótica forte. E almofadados cor de sol.

Fizeram-se os contactos da praxe, para ver ao vivo e decidir. E chegou o dia, que por mero acaso foi o do meu aniversário.
A porta abriu-se, entrei... e puff! Paixão à primeira vista.
Dentro da minha mente soltavam-se foguetes ("É isto, é mesmo isto!!!") e senti-me como se o Universo me estivesse a dar um presente.
Entre dois dedos de conversa que se tornaram vinte, fechou-se o acordo no meio de um rol de histórias e referências em comum. Os sorrisos e a gentileza foram o bónus extra.


Os cadeirões foram para a sua nova casa, enchendo-a de sol, e eu vim-me embora com um brilhozinho nos olhos: é que hoje fiz um amigo, e coisa mais preciosa no mundo não há.

Parece que, finalmente, a Primavera chegou.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Sursum corda

- Hamei-te, sabias?
- Pff, escreveste mal
- É porque foi um erro...

Weightless



*When we let go of something heavy that we hung to for so long, we feel... weightless.

Let the storm rage on




It's time to see what I can do
To test the limits and break through
No right, no wrong, no rules for me I'm free!

Let it go, let it go
I am one with the wind and sky
Let it go, let it go
You'll never see me cry!

Here I stand
And here I'll stay
Let the storm rage on!

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Intervalo

O espaço foi preenchido por silêncio de rádio.



O tempo passou.
Continuo a ser eu mesma mas já não sou a mesma.
- O que quer isso dizer? perguntas
Que já não me conheces - respondo
E que te recuso o direito
de achar que sim.
É arrogância - digo-te
achares que sabes porque
faço o que faço
ou digo o que digo
sem sequer me perguntar.

Tudo muda, e todos, sem excepção - entropia.
Também és quem és mas já não és quem eras.
Já não te conheço embora te reconheça.


Agora que já expliquei, podemos fazer reboot?
Sem falsas partidas, voltar ao início?

Olá, sou a XR.
Acho que esta poderá vir a ser uma bela amizade.

Círculos

Dias, horas, minutos foram passando e já lá vão quase cinco anos.

Demorei a enterrar os sonhos e a apagar os números.
Acabei por fazê-lo, não contra vontade mas com alguma tristeza. Há sempre tristeza quando deixamos para trás um capítulo que consideramos não ter sido devidamente encerrado, mas que só uma completa loucura justificaria manter em aberto, como uma ferida à qual se arrancam constantemente as crostas - sem deixar fechar, cicatrizar, sarar de vez.

E, no entanto, como tantas vezes acontece em filmes e em livros, a história que ficou por contar alcandora-se de novo no horizonte, como uma carruagem de um comboio louco num círculo mal desenhado. Desafiando-me.

Paro e semicerro os olhos, sem saber bem o que fazer. Tento focar à distância mas o que consigo ver é muito pouco. Quero ver mais, mas não ouso pedir. Talvez agora, como mera espectadora, pudesse assistir ao desenrolar dos eventos, os encontros e desencontros e as batalhas. E sorrio ao pensar no clamor de metal contra metal de espadas desembainhadas... ou não fosse eu quem sou.

É que, apesar do tempo que já passou, ainda mantenho (pelo menos parcialmente) o que disse.
Não foi o medo que me tolheu.
Não foi a doença nem a descrença.
Ainda seria capaz de fazer o que disse que faria.
Mas a história mudou. Já não é a mesma, pois que nem eu sou já a mesma.
Ela lá está, a história - noutros locais, com outros personagens, diferentes vontades e ambições.

Talvez a história seja eterna - círculos atrás de círculos, dentro de círculos.
E talvez eu possa voltar a entrar nela, só o tempo necessário para cumprir o meu papel e voltar a desembarcar, encerrando de vez o capítulo.

Ou talvez não.