quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

Dedos de Deus

Sempre achei graça a esta expressão, usada para descrever aqueles raios de sol dispersos que atravessam uma espessa camada de nuvens.
E no entanto, algo tão simples e banal é capaz de me melhorar a disposição num dia cinzento - sim, que o tempo (no sentido meteorológico da palavra) mexe muito connosco.
Alguns raios de sol restabelecem-me o ânimo que por vezes se acinzenta como o céu. O dia parece tornar-se por momentos mais leve.
Como se, na realidade, algo viesse lá do alto.

terça-feira, 7 de dezembro de 2004

Fuga

Tão bom. Era tão bom quando éramos pequenos escondermo-nos à espera. Sentir os outros à nossa volta, sabê-los à nossa procura. E a alegria de sermos encontrados.

Hoje, volta e meia, sinto vontade de me esconder. Mas agora, para desaparecer a sério, fugir de vez deixando tudo e todos para trás. Só por algum tempo.
É o medo que me peia. Medo da saudade que sei que teria do que deixasse (nem tudo, claro).
Medo de que no fundo até nem sentissem a minha falta. Porque quando não sentem a nossa falta é que desaparecemos mesmo.
E do desaparecer voluntariamente, por algum tempo, para depois voltar - ao desaparecer de vez da memória dos outros, vai uma grande distância. Tão grande que não a consigo medir. Que não a quero medir. Porque tenho medo.
Será isso que mais receamos na morte? O esquecimento dos outros?