quinta-feira, 29 de maio de 2008

Amigos

Pela segunda vez num espaço de tempo muito curto, alguém que me é próximo perde um familiar. E se num dos casos consegui falar com a pessoa e estar ao seu lado, no segundo caso tal não foi possível. Vi-me limitada a enviar uma SMS para transmitir o meu carinho e apoio. Mas isso irritou-me, porque a amizade não cabe numa SMS. Não há espaço suficiente. E foi exactamente por causa disso que acabei por escrever um dos meus desabafos - que acabou por ser maior do que inicialmente tencionava.
Aqui fica.

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Ai, amigo ...

Não dava.
Não havia maneira.
Por mais que eu quisesse, não havia forma de condensar em 160 caracteres tudo o que te queria dizer.
Não conseguia concentrar em 160 espacinhos o que me ia na cabeça e na alma.

Tive que me contentar em enviar meia dúzia de palavras abreviadas para te (vos) transmitir que quereria ter estado contigo (convosco) numa hora tão triste como aquela por que passaram. Ao condensar demais as ideias e as palavras – em 160 míseras casinhas – caí nas mais que repetidas mensagens que decerto recebeste nestes últimos dias. Mas não podia ficar completamente afastada, já que presencialmente não me podia manifestar.

Há um mail que circula dizendo que a parte do corpo mais forte que possuímos são os ombros. São eles que seguram a nossa cabeça, umas vezes direita e firme, outras vezes cabisbaixa – por tristeza, vergonha ou mal-estar, não interessa. Mas para além de nos segurarem direitos são também os ombros que têm a importante função de apoiar os Amigos nas horas boas e nas más.
Já emprestei os ombros a amigos e já pedi ombros emprestados, quer para partilhar algo de maravilhoso quer para dividir uma tristeza imensa. Pois eu quereria ter estado convosco para te emprestar o meu ombro. É que, digo-te já, é um ombro bem experiente – em horas positivas e negativas. Mas quisera pô-lo à tua disposição nesta hora. Para desabafar, para chorar, fosse o que fosse; até para esmurrar se te apetecesse caso fosses dominado por uma legítima ira face ao que aconteceu.

Mas não pude comparecer, não pude estar ao teu (vosso) lado. Não pude abraçar-te e dizer-te baixinho “não precisas de falar, chora à vontade se quiseres”. Não pude estar convosco numa hora em que todo o apoio ajuda para suportar uma grande dor. Tive que me contentar com 160 caracteres para, afinal, não conseguir dizer o que queria ... daí que agora escolhi escrever tudo antes que a memória – essa grande malandra - me atraiçoe e roube as palavras que quereria dizer-te.

160 espacinhos para te dizer o que me vai no coração ? Não chegam e nunca chegarão para ilustrar a verdadeira dimensão da Amizade e do Carinho.

Espero que este “pequeno” texto o consiga. É que daria imenso trabalho escrever isto tudo em blocos de 160 de cada vez, ainda para mais porque não conseguimos utilizar os dedos todos num telemóvel – ia ficar com uma valente cãimbra nos polegares ...

Espero também que quando este texto te chegar às mãos (ou à vista, melhor dizendo) te sintas um pouco melhor. Mas se não for o caso, os ombros cá continuam à tua disposição sempre que precisares.

Afinal, é para isso que servem os ombros dos Amigos, não é ?

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