quarta-feira, 12 de junho de 2013

Madrugadas

Uma. Muitas.
São cinzentas e doem.

Quando o sentir nos enche e transborda
abrimos a porta à dádiva
oferta, partilha
mas abrimos também a porta à dor
ao abandono
ferida profunda

A madrugada dói, cinzenta.

A manhã passa em turbilhão,
cheia de afazeres da vida lá fora
das milhentas coisas que nos rodeiam
e de que não podemos, não devemos nos alhear
quando somos elo e não ilha.

O dia desliza até ao anoitecer
e enche-se o espaço de risos e imagens
palavras partilhadas aqui e ali
para manter afastado o silêncio ensurdecedor
deixado na esteira de quem não volta.

Vem o escuro, a pausa.
A luz que acendo todas as noites,
farol teimosamente erguido na mão do espírito
para alumiar um regresso que não acontece,
apaga-se no nevoeiro denso.
Alquebrada, a alma recolhe-se
enroscada no seu próprio regaço
sem mão carinhosa que a sossegue
sem outros sons que não o do próprio coração
e do respirar entrecortado de soluço.

Noite após noite adormece
de braços vazios
na madrugada cinzenta que dói.

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