Imaginas o que me apetecia agora?
Estava capaz de largar tudo, meter-me no carro, fazer uma rápida paragem em casa para buscar algumas coisas (mais uma paragem para te apanhar, se quisesses) e finalmente rumar a um pinhal - no Magoito, ou São Julião, por exemplo.
E nem me iria preocupar com lagartas.
Abriria então a sacola trazida de casa: garrafas de água, tupperwares a escorrer condensação, um top de desporto, livros, toalha de praia, calções, chinelos e um embrulho rústico de aspecto duro e pesado. Ao desenrolar o embrulho, uma lona rectangular, pesada e colorida, com os lados mais estreitos presos em barrote de madeira perfurados e amarrados com corda de sisal grossa.
Depois, pegar numa extremidade da lona, desenrolar as cordas e amarrá-las à volta de um pinheiro, com voltas reforçadas sobre voltas e nós fortes. E fazer o mesmo à outra ponta, tudo bem preso e amarrado com nós de marinheiro.
Finalmente, trocar a roupa de adulta de meia-idade (uma senhora!? supostamente) civilizada pelas de uma gaiata despreocupada e semi-selvagem como fui há tantos anos. As calças compridas pelos calções de ganga meio esfarrapados, a blusa sóbria pelo top colorido, os sapatos elegantes mas confortáveis pelos chinelos ainda mais confortáveis.
Espreguiçar-me, sentir o cheiro do pinhal misturado com o do mar, abrir bem os braços para abarcar tudo o que me rodeia (tudo incluindo tu, se lá estivesses) e respirar bem fundo.
Finalmente, com uma toalha de praia dobrada a fazer de travesseiro, um livro, mais um tupperware cheio de morangos e uvas, estender-me na cama de lona e des-con-tra-ir balouçando levemente na brisa.
Se tivesses decidido vir seria diferente, mas não muito. A lona teria de ser amarrada com mais força, nós mais fortes para nos suportar a nós, e é provável que fossem necessários mais víveres. Mas, em vez de fazer de uma toalha o meu travesseiro, o meu ninho seria o teu ombro e balouçaria embalada nos teus braços.
Nós, juntos, e paz para simplesmente estar.
Nada mais seria necessário.