terça-feira, 7 de dezembro de 2004

Fuga

Tão bom. Era tão bom quando éramos pequenos escondermo-nos à espera. Sentir os outros à nossa volta, sabê-los à nossa procura. E a alegria de sermos encontrados.

Hoje, volta e meia, sinto vontade de me esconder. Mas agora, para desaparecer a sério, fugir de vez deixando tudo e todos para trás. Só por algum tempo.
É o medo que me peia. Medo da saudade que sei que teria do que deixasse (nem tudo, claro).
Medo de que no fundo até nem sentissem a minha falta. Porque quando não sentem a nossa falta é que desaparecemos mesmo.
E do desaparecer voluntariamente, por algum tempo, para depois voltar - ao desaparecer de vez da memória dos outros, vai uma grande distância. Tão grande que não a consigo medir. Que não a quero medir. Porque tenho medo.
Será isso que mais receamos na morte? O esquecimento dos outros?

2 comentários:

Anónimo disse...

O medo da morte para mim advém unicamente do que fica por fazer. E de ser uma viagem sem retorno... o esquecimento, esse passa por ser a morte em vida. Se bem que tenha retorno.

Anónimo disse...

“E aqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando...”
Camões

Está frase provocou a dada altura da minha vida,um turbilhão de sentimentos indescritiveis. Queria libertar-me da Lei da Morte,e deixar o meu nome gravado a fogo na História,uma vez que,para mim,era a única maneira de não morrer,não cair no esquecimento...
Hoje percebo que a única forma de não cair no esquecimento é viver a vida em prol dos outros,ou seja,abdicar do meu egoismo,para alimentar o de outros...o ser humano é um ser mesquinho,e só se liberta da Lei da Morte quem desperdiça uma vida para que outros vivam melhor a deles...

Prefiro morrer e cair no esquecimento,do que viver morto...