Há músicas que em determinados momentos das nossas vidas têm uma especial ressonância. “Batem” com força nesses instantes como se quem as compôs tivesse passado (e talvez tenha) pelo mesmo que estamos a passar nessa altura.
“Driving with the brakes on” dos Del Amitri ... o assunto de fundo não é o mesmo, nem poderia sê-lo. Mas é assim que me tenho sentido ultimamente. Como se conduzisse um carro permanentemente travado ... como se tentasse nadar com botas pesadas nos pés.
Sinto-me afundar num oceano de marasmo, do deixa-andar rotineiro, das coisas nunca resolvidas que se camuflam com um remendo como se tapa uma borbulha incipiente com maquilhagem. E as botas pesadas não me deixam vir à tona. A água gélida rodeia-me e o frio entranha-se no meu corpo, cerrando-se à volta do meu coração. Do meu Eu.
Outra música que tem sido minha companheira permanente nos últimos serões é “Letting the Cables Sleep” dos Bush. Noites frias em que me sinto deslocada, como se não estivesse no lugar certo ... haverá algum lugar certo para mim?
“Whatever you say it’s all right
Whatever you do it’s all good
Whatever you say it’s all right
Silence is not the way
We need to talk about it “
Sinto a premência do querer que algo aconteça … qualquer coisa que destrave finalmente o carro e me faça seguir em frente. O que quer que seja, que quebre o muro de silêncio que impede a resolução das situações. Mas o silêncio estende-se como um manto de nevoeiro, mascarando tudo o que há de errado. Como se pelo facto de não se falar sobre algum assunto fizesse com que ele desaparecesse.
Nada mais falso, não é?
Então tentem nadar contra a maré com botas calçadas ...
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