quarta-feira, 9 de maio de 2012

HBD

Há um desconforto que não consigo identificar, um cansaço quase extremo que se alastra ao espírito e faz com que qualquer esforço, físico ou mental, pareça para além das minhas forças.

É como se um manto de desalento me cobrisse e tolhesse o corpo - este corpo que não sinto como meu.
Há muito tempo, acreditava que corpo e mente formavam um único elemento. Levou muito tempo mas habituei-me ao conceito de duas entidades unas mas independentes - como se imagina que seja a perfeita união de dois amantes. Já não estranho (ainda que não compreenda nem goste) estar a funcionar, ultimamente, em piloto automático. Meras rotinas - (sobre)viver.


Estou cansada de fingir uma normalidade que não é minha.
Ajo como é suposto agir, falo como é suposto falar, rio quando é suposto rir. Mas são (re)acções sem sensações, apenas o que esperam de mim - não aquilo que realmente sou atrás da imagem que vêem.
Sou muito mais do que pensam - e ninguém me compreende. Tentam, mas quedam-se longe, muito longe da realidade.
Um dia desabafei dizendo que todos estamos aqui de passagem, que os meus dias estão contados, que anseio deixar a terra como acabará por acontecer. Foi um erro. Primeiro pensaram que eu tinha uma doença terminal. Depois suspeitaram de uma tentativa de suicídio e quiseram medicar-me, psicanalisar-me, internar-me. Como poderia então contar-lhes quem sou, falar-lhes do ser alado e ardente com que me identifico interiormente?

Aprendi a calar-me, a não desabafar, a não partilhar o que penso e/ou sinto. Afasto-me das pessoas, inventando afazeres. O convívio custa; a incompreensão é um fardo.

Perguntam-me se estou bem mas evito responder. Da minha boca saem palavras quando gostaria de expelir labaredas... acabo por sorrir de uma forma tão enviesada que se transforma num esgar de insatisfação, quase desprezo por este corpo com que me arrasto.



Ao anoitecer, no terraço, recosto-me a olhar para as estrelas.
Deixo-me invadir pela saudade e de olhos molhados conto os dias que faltam para o fim do meu tempo aqui.


Fecho os olhos.
Não é fácil estar a mais de cem anos-luz de casa.

2 comentários:

Liliana Fernandes disse...

Gostei imenso. Beijinho.

Daniel C.da Silva disse...

OLá XR

Um texto pujante de tanta verdade, mas perfeitamente identificado: existem sinais evidentes daquilo que hoje todos padecemos mas uns em graus maiores do que outros e de diferentes maneiras, desde a solidão, incompreensão, desalento, frustração,quando o nome de que padcemos se chama depressão. E então a alma definha, a força anímica desaparece, tudo é um frado e quando tentamos explicar ninguém percebe.

Nao devemos confundir, querida XR, estados de alma pesados e que lá vamos levando (mal), com aquilo que necessita de ajuda terapêutica, não já apenas uma conversa de desabafo, porque a sombra da noite e do desalento já se enraizou tanto em nós, que necessitamos de nos ajudar com ajuda técnica que tanto pode ser em terapia como simultanemanete (ou começando logo por aí que é ainda melhor) tomarmos uns vitamínicos que o técnico (psicologo, psiquiatra ou terapeuta) nos receitar.

Isto vai amenizar imenso o sofrimento e entao os amigos são o complemento, porque tal como uma pessoa desnutrida e a morrer de fomr, por mais que queira aguentar-se e saber que se alimenta os mínimos, nao conseguirá com a ajuda de si mesma nem de ninguém passar disso, muito pelo contrário, piorará a situação, se não se socorrer de vitamínicos, de um choque de vitaminas e alimentos fortes.

Quando a dor ultrapassa os limites da nossa capacidade, ou quando nao ultyrapassa mas nos retira toda a energia ao ponto de quase nada querermos, de sentirmos o peso do mundo nos ombros, e de não termos força moral, psicologica e nem sequer física para nada, está na altura de nos ajudarmos com um técnico, que através de medicaçao de acordo com o caso, vitamínicos que nos aliviarão o fardo, não nos tirará nunca o problema de fundo, o desgosto que sentimos sabendo ou nao porquê, mas pelo menos vai atenuar a contaminaçao que a nossa dor ja está a produzir, e dessa forma embora os problemas sejam semprev resolvidos por nós, recebemos ferramentas através também das palavras e da perspectiva do terapeuta, que nos ajudarão a enfrentar os nossos problemas com outra força, com outro alento... e até mesmo livrarmo-nos deles se tudo se conjugar na sorte que nem todos têm...

Adorei o desabafo, mas que por si também mostra o sufoco de alma que neste momento carece já também de outra ajuda.

Um beijinho amigo. Também precisamos de nos ajudar a nós porquentodos merecemos ser feleizes, e a espiral de solidão ou incompreensão leva-nos a mortes de alma que se dsesenham assim...

Gostaria de saber dqui a uns posts umas novidades onde a esperança gerada pelos conselhos de tecnico e vitamínicos proprios, ajude e alivie a força que por ora se esgotou... :)

Beijinho sempre amigo