segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sem retorno



Sem capacete, estendo os dedos
e toco o vazio onde não estás
os meus ouvidos enchem-se
do silêncio
que me rodeia, onde o teu nome não soa
porque te guardo ferozmente, trancado
a setenta chaves no meu espírito
para que não descubram que és
o que és
e não quem digo que és.
Escondidas sob o fato de astronauta
trago na pele queimaduras
indolores, invisíveis, insuspeitas
onde as tuas mãos pousaram
ardentes
num tempo a que já perdi o tempo
marcaste-me tua, sem hipótese
de retorno ao que era,
ao que fui
num outro tempo que esmaece.
Oh, quantas vezes quis
arrancar de mim essas marcas,
tatuagens que ninguém vê
e apagar de mim a tua memória
partindo ad astra sem regressar!
Mas aterrei em mim.
Veio o tempo da calma,
pacífica aceitação
de que, mal grado o que quis,
estás embutido no que sou;
e hoje sou,
sou eu que não quero
voltar
a esse tempo perdido no tempo
em que simplesmente não eras
parte de mim.
Em que nenhum de nós era astronauta
nem tu a maior estrela no meu céu.


imagem copiada daqui

1 comentário:

Daniel C.da Silva disse...

Brutal! Muito, muito bom...

bjinho amigo