segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A noite passada

... sonhei contigo.



Sonhei que nos encontrávamos algures numa praia, longe de tudo, longe de todos, em tarde de vento e chuva. Que caminhávamos na areia, conversando, de mãos nos bolsos; lado a lado, protegidos do vento por casacos quentes e dizendo disparates ao mesmo tempo que falávamos de coisas sérias.
Que respirámos o silêncio mesclado com vento, e nos rimos, caminhando, até perguntares - se era verdade, se tinhas lido bem as entrelinhas e entendido bem todas as pistas.

Sonhei que fechava os olhos ao vento, o assobio nos meus ouvidos quase ensurdecedor - desculpa perfeita para fingir que não tinha ouvido, só para não ter de responder e de ouvir a seguir o que receava. Que bebi o vento mesclado com chuva, e respirei maresia, tentando ganhar coragem - para te dizer que sim, que era e é verdade, que é a ti que falo e me dirijo quando escrevo aqui sobre o que sinto, e que tudo o que aqui escrevo e sinto é verdade e é tão intenso como o Mar.

Sonhei que fizeste silêncio, que foste silêncio até eu ter de me virar e ver para ter a certeza de que não te tinhas ido embora. Que não me olhaste nos olhos, porque até nem nunca olhas, mas nessa hora em que não me olhaste o meu coração se apertou e fez pequenino. Que respiraste silêncio mesclado com maresia, as mãos metidas no fundo dos bolsos até endireitares as costas e olhando para o céu cinzento disseste apenas "ok".

Sonhei que de novo foste silêncio e então também eu fui silêncio enquanto caminhávamos de volta ao lugar onde tinham ficado os carros; lado a lado, de mãos nos bolsos mas carregando o silêncio entre nós. Que, sem me olhar, disseste apenas "até amanhã" e te meteste no teu carro, conduzindo sob a chuva fina mas incessante. E que choveu e continuou a chover até que cheguei a casa, envolta em silêncio, sem saber o que fazer, o que dizer, o coração pequeno mas leve por já não encerrar um segredo tão grande.

Adormeci com maresia nas veias e acordei confusa, sem saber se tinha sonhado ou não, se apenas sonhei ou sonhei que sonhei.
Quando cheguei à janela, chovia.
E senti uma imensa vontade de caminhar junto ao mar contigo.

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