quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Nocturno

Anoiteço na minha própria penumbra.
Sem saber como, fui apanhada no rebordo do teu campo gravitacional - de longe, como Plutão, que nem direito a ser planeta tem, mas que dia após dia orbita fielmente a sua estrela, ofuscado pela grandeza imponente de um Júpiter ou pelo esplendor anelado de um Saturno.

Às vezes queria ser um cometa, sabes? Poder largar amarras e partir rumo a ti, passar tão perto que não terias outro remédio a não ser ver-me, mesmo ver-me, enquanto me aproximasse e numa rápida passagem contornar-te, vendo-te de todos os ângulos, antes de voltar a cruzar o espaço rumo à distante Oort.
Saber que por um instante no tempo teria a tua atenção, ainda que mesclada do receio de que eu perdesse o rumo e me despenhasse contra algo ou alguém, numa apoteose de caos e destruição.
Saber que passar demasiado próximo seria o meu fim - mas que talvez valesse a pena.

Como o Sol - quente, brilhante, e não te posso tocar, nem sequer aproximar-me demasiado... mas sei a tua luz e não preciso de ver-te para te saber lá. Deito-me e quando fecho os olhos tenho a tua imagem gravada no interior das pálpebras; no silêncio da noite as meninges trazem-me de volta o som da tua voz e do teu riso e por momentos é como se estivesse a ver-te.

Mas estou sozinha, e continuo sozinha, calada, no escuro, ouvindo o tiquetaque do relógio, perdida no turbilhão de pensamento e sentimento que me assola.

"Lying in my bed I hear
the clock tick, and think of you

Caught up in circles,
confusion is nothing new..."

Admitindo, finalmente, com um suspiro o quanto gostaria que estivesses aqui ao meu lado, adormeço.

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