terça-feira, 3 de novembro de 2015

Radio silence

Chega.

Não consigo continuar esta caminhada insana, em que cada pé tacteia o chão à sua frente antes de pousar, pois tudo em volta é areia movediça.
Não consigo continuar a amordaçar-me, a controlar constantemente o que digo com receio de dizer a coisa errada.
Não consigo continuar a apagar metade do que escrevo e a amarrar palavras com receio de que as letras me traiam, deitando todo o esforço a perder.

Nunca fui pessoa de desistir sem sequer tentar - mas quando está garantido o equivalente a uma derrota, mais vale aceitar à partida que não há nada a fazer e poupar as forças para suportar a dor que há-de vir.

E ela virá.

Virá, escura e pesada como um trem a vapor, e igualmente imparável.
Virá, escura e ominosa como um Dementor e igualmente devastadora.
Virá, escura e imensa como uma noite de tempestade - pois não há bonança em dias de que não faças parte.

No deserto em mim, visto-me de silêncio.

Sem comentários: