terça-feira, 26 de outubro de 2004

Tempestade

É tarde. Quero dormir e não consigo.
O desejo vem, em vagas imperfeitas e sucessivas, espraiar-se na enseada do meu corpo como ondas de marés vivas de temporal.
Não posso domar a tempestade lá fora, mas domino a tormenta em mim; clamo pela tranquilidade que teima em não querer vir, enquanto lá fora a chuva cessa e o nevoeiro se adensa.
Sinto-me nua, mas em breve sou uma ilha isolada num mar de nevoeiro manso; sem ondas, apenas um vago movimento brando e contínuo. O sono chega por fim.
Sei que do outro lado dos portões do sonho voltarei a encontrar a tempestade, mas aí não terei que a dominar. Aliar-me-ei a ela, cavalgando o seu dorso em direcção a ti.
No mundo do sonho, aí sim, chegará a bonança ao meu ser, no centro onde a tua imagem impera. Até que o som da tua voz volte a despertar a tempestade em mim.

Sem comentários: