segunda-feira, 5 de março de 2012

Aos solavancos

Hoje, no mural de uma facebookfriend li uma descrição que me tocou de perto: coração aos solavancos.

Acho que posso descrever o meu assim, também.
Não sou de gostares pacíficos a meio gás, que se mantêm indefinidamente sem avanços nem recuos. Nas amizades, ou é ou não é. Nada daquelas amizades insossas em que não há confiança mútua, em que há assuntos que não se podem/devem tocar, cheias de pruridos e perlicoquices. Amigos são amigos, com franqueza, com abertura, com frontalidade carinhosa quando é preciso falar e mãos doces e calorosas quando é preciso o silêncio de um abraço. Ou apenas um ouvido e um ombro firme emprestados.

No amor também não gosto de dúvidas, hesitações, indefinições, minhoquices. Quando se tem a certeza de que se ama, qual o problema em admiti-lo? Qual o problema de se dizer "estou apaixonada!"? Não gosto de andar a medo, de ficar a magicar "e se... mas talvez..." ad aeternum até que já não haja volta a dar porque a janela de oportunidade se fechou.

Se esta postura já me trouxe dissabores? Já, sim senhor. A mim e a muita gente que admite ser como eu.
Amar torna-nos vulneráveis, porque abrir o coração dá à outra pessoa a hipótese de nos magoar de muitas formas, e nem todas são exercidas sem intenção. Há quem opte por nos ignorar ostensivamente ou adopte atitudes que sabe à partida que nos vão custar a assistir. Há quem, ao saber do sentimento que despertou, vá ridicularizá-lo junto dos amigos, para gáudio pessoal e auto-promoção. Há quem finja que não viu nada, que não deu por nada, a ver se "a coisa" termina sem ruído nem ter que tomar qualquer tipo de atitude, como se o amor fosse algo incómodo, rasteiro, indesejável e deixando-nos sem reacção, sem resposta. Pendurados.
Poucos têm a força de carácter para nos olhar nos olhos e dizer, sem acidez e sem vontade de ferir "não sinto o mesmo por ti".

É apenas esta última atitude que revela empatia, compaixão, ao não querer tirar vantagem da vulnerabilidade que revelamos mas ao mesmo tempo a dar-nos uma resposta concreta, mesmo que não seja aquela que desejamos. A partir daí podemos decidir seguir em frente e permitirmo-nos sarar. Com o tempo poderemos até rir-nos da nossa própria tolice sem nos sentirmos mal com ela, sem nos auto-depreciarmos, auto-sabotarmos seja de que forma for. Com o coração sarado, ainda que marcado por cicatrizes.

Se eu gostaria de ser/sentir de outra forma? Não. Já me debrucei a pensar sobre o assunto e tenho a certeza disso. Em relação aos que gostam de "amores de banho-maria" tenho momentos baixos bem mais baixos e negros, podem ter a certeza. Mas os meus momentos altos são incomparavelmente mais altos e brilhantes também, como se pudesse, realmente, voar.

Sim, tenho um coração que vive aos solavancos, que se entrega totalmente quando se apaixona, que vibra na proximidade, que parece morrer quando o amor não é correspondido, que parece apagar-se quando a paixão acaba. Tenho um coração cheio de cicatrizes e marcas de remendos, mas vivo, intenso e pulsante.

É assim que sou e que amo, e se não prejudico mais ninguém com isso não estou minimamente interessada em mudar. Não trocaria o meu coração por nenhum outro.
Antes um coração aos solavancos do que uma vida a meio-gás.
:)

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