segunda-feira, 26 de março de 2012

Herói



Perguntei-te se tinhas síndroma de Errol Flynn.
Riste-te, pensando que a pergunta tinha algo a ver com os collants do Robin Hood...

A verdade é que te mostravas como alguém sem medo, maior do que a própria vida, como um herói em busca de uma causa a que se dedicar. E eu expliquei-te que não era uma causa, não era uma princesa sentada numa torre à espera de ser salva nem uma donzela aos gritinhos por ter visto uma aranha.
Era e sou a que pegaria na espada e sairia porta fora sozinha para dar porrada nos assaltantes, a que pisa baratas e enxota aranhas com um piparote, a que não se submete nem diz que sim a tudo "a bem da harmonia", a que diz o que tem a dizer sem calar por receio, a que às vezes amua e outras vezes se irrita, a que não tem medo de gritar nem vergonha de chorar, a que não espera por ajuda para carregar sacos de lenha nem acha que "força física é coisa de homens". Disse-te que não queria ser ignorada, dominada nem tratada como deusa-mãe. Queria apenas o que sempre quis: ser respeitada como ser humano inteiro e ser tratada como igual enquanto mulher, com as minhas ideias, idiossincrasias e necessidades.

Voltaste para o teu bosque solitário, para a tua casa na árvore, deixando-me rodeada de silêncio. Talvez fosse demasiado para o que esperavas - ou apenas muito diferente do que pensavas encontrar. Achei que era medo de tirar as teimas, de lidar de frente com alguém (sim, eu!) como tua igual, com tanta capacidade e força de espírito como tu. A minha alcunha deveria ter-te posto de sobreaviso, de que não era o medo que me guiava.

Preferiste a tua isolada pacatez sem incidentes, sem ninguém que te desafie, que te questione, que discorde de ti e te diga na cara que podes não ter razão; mas também sem quem puxe por ti e lute ao teu lado, que te acompanhe, te encoraje e (por vezes) até te ajude. Não precisava nem queria que fosses um herói; bastar-me-ia que fosses um homem à minha altura.
Mas se um dia monstros ou zombies te aparecerem à porta pela calada da noite... a tua espada estará sozinha contra tudo porque assim o quiseste.

Fica bem.
Quem sabe talvez nos encontremos à chegada a Bifröst.

Sem comentários: