quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Cosmic Lessons

A vida é aprendizagem. Conhecimento, evolução.
Quem não aprende estagna, morre em vida.

Nunca me importei de aprender; aliás, sempre gostei dessa coisa da aprendizagem contínua porque sempre me foi dito (e aceitei) que o saber não ocupa lugar. Existem muitos tipos de saberes, que ignoramos se alguma vez nos serão proveitosos ou até essenciais em alguma circunstância da vida. Mas nunca usei a óptica do ‘bah, sei lá se alguma vez vou precisar de saber isto!’ para virar costas a uma oportunidade de aprender qualquer coisa.

O Cosmos dá-nos lições constantemente. Não de coisas ‘práticas’ e ‘materiais’ - não é o cosmos que me vai ensinar a fazer bacalhau com natas nem a mudar o pneu ou o óleo do carro! Por acaso até são coisas que eu sei fazer mas garanto que não foram aprendidas por epifanias nem de qualquer forma transcendental. As lições do Cosmos dotam-nos de ferramentas psicológicas e emocionais que nos sirvam para progredir no nosso caminho individual, quer através de coisas que observamos e sobre as quais reflectimos, quer através de pessoas que cruzam esse caminho e com quem temos algo a aprender (ou a ensinar).

Há um texto largamente divulgado pela net (umas vezes atribuído a Eleanor Roosevelt, outras a Brian Chalker) que resume essa ideia; creio que a maior parte das pessoas reconhecerá o início desse texto:
People come into your life for a reason, a season or a lifetime.
When you figure out which one it is, you will know what to do for each person.


Não é fácil para nós perceber à partida o porquê de determinada pessoa ter entrado nas nossas vidas – muito menos por quanto tempo. Haverá algo para aprendermos e/ou ensinarmos, e por vezes só muito mais tarde nos aperceberemos do ‘quê’. Há casos em que a lição é mútua, cada uma das pessoas tendo algo a aprender com a outra: pontos de vista sobre um determinado assunto, formas de encarar a vida, tocar piano, o teorema de Pitágoras em BD, bifes com molho de mostarda e pimenta… sei lá! Se soubéssemos ‘o quê’, seria fácil ir ter com ‘os melhores’ para nos ensinarmos o que precisamos e pronto, lição aprendida, sigamos em frente. Mas não sabemos – nunca o sabemos de antemão.

Por vezes, a lição precisa de tempo para ser aceite, absorvida, entendida, grocada. Podemos resistir-lhe – ou enfrentar resistência. Podemos aprender a nossa parte num ápice – ‘nós, os intuitivos’ somos assim, damos saltos de lógica sem tocar nos pontos intermédios como quem passa do A directamente para o D – e a outra pessoa necessitar de muito mais tempo – os ‘racionais’ com a lógica a ter que ser seguida ponto a ponto, com o D sempre após o A, o B e o C, tudo no seu devido tempo.

É como um daqueles desenhos que se fazem unindo pontinhos. Uns, ao fim de três ou quatro traços, dizem logo que qual é a imagem (aquilo é um dragão, não estás a ver as labaredas a sair pela boca?). Os outros insistem em juntar os pontinhos todos, por ordem (lá porque uma parte do desenho é uma chama não quer dizer que seja um dragão, pode ser uma lareira acesa!).

Aqui nasce a impaciência de um lado (opá, demoras muito a lá chegar? Já estou farto de estar à espera!) e a exasperação do outro (não me pressiones! Se queres ir embora vai e pronto, não me chateies!).
Ambas as partes têm algo a aprender: um, a ter paciência, a não confiar cegamente na intuição, a não tirar conclusões precipitadas, a não pressionar; o outro, a não julgar que a lógica é a única forma de apre(e)nder, a confiar (também) um bocadinho na intuição, a não perder tempo que pode ser precioso só porque quis confirmar o que já sabia.
Mas qualquer que seja a lição, para a absorvermos temos que estar receptivos. Não pensar que já vivemos muito e que o cosmos já nada tem para nos mostrar de novo. Que somos demasiado velhos, ou ignorantes, ou cansados da vida para aprender.

Isto traz-me de volta ao texto que citei. Quando alguém cruza o nosso caminho, não sabemos o porquê. Não sabemos se foi por uma razão, por uma estação ou para a vida inteira. Não sabemos se nos limitamos a encontrar numa encruzilhada, se faremos uma parte do caminho juntos ou todo o remanescente a partir daí.
Não devemos descartar a oportunidade, seja por acharmos que já sabemos tudo, seja por receio de que a lição vá doer. Sim, algumas lições são dolorosas. Na verdade, algumas são-no mesmo muito, daquelas de deixar marca e não apenas a lição. Cicatrizes que podemos ocultar… ou ostentar com orgulho.

Às vezes doem não pela lição em si mas pela expectativa gerada. Pensamos que após a lição aprendida, se a pessoa não saiu da nossa vida ainda, será porque veio para ficar. E afeiçoamo-nos. Até que um dia parte porque já aprendeu a sua lição também. E sofremos.
Mas será que isto é razão para não aceitarmos a sua presença? Para lhe virarmos as costas logo ao início, só porque a sua partida pode vir a trazer dor? E se afinal até for daquelas presenças para a vida inteira? Não somos donos da verdade, não podemos dizer antecipadamente que sabemos tudo o que se vai passar! Rejeitar a lição e todos os bons momentos que possam existir pela probabilidade de que isso venha a acabar?

Não, desculpem-me mas essa postura não é para mim. Recuso-me a estagnar, recuso-me a privar-me de uma oportunidade só porque pode doer depois. Não só porque um ‘pode’ não ‘é’ garantidamente, mas também porque não sei o que há para aprender ou para ensinar. Não sei se a pessoa chega por uma lição, por uma estação ou para toda a vida. Em vez de ficar de pé atrás até perceber qual, escolho aprender, escolho abraçar a oportunidade com mais força, vivê-la e vivenciá-la ao máximo, exactamente porque posso nunca mais voltar a tê-la na minha vida. E se acabar, se a dor sobrevier, a lição ficará, tal como os momentos vividos. E eu serei emocionalmente mais rica por isso.


Como dizia Vinicius de Moraes sobre o amor…

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


(Soneto de Fidelidade – Antologia Poética, 1960)

But then again... nunca sabemos se até não é mesmo para a vida toda, não é?
;)

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