Escrevo porque me dá na telha. "E mai' nada".
Escrevo porque me apetece escrever, porque tenho que atirar cá para fora, sob a forma de palavras, algo que me alegra ou me assola.
Post-it's pequenos que são fotogramas de momentos nos meus dias.
Post-it's grandes que são pequenas peças deste confuso puzzle que sou eu.
Gostava de saber escrever melhor. Ser sucinta, conseguir condensar num texto pequeno uma imensidade de sensações, transmiti-las a quem me lê, cristalizar em poucas linhas um conjunto de imagens que se sobrepõem até fazer um quadro.
A sério. Gostava de escrever como a Sofia Vieira, que em meia dúzia de linhas não deixa nada por dizer - ao contrário de mim, que tento focar um assunto de vários ângulos com receio de deixar escapar alguma coisa e acabo por me tornar prolixa, insistente - chata.
Gostava de escrever a um tempo sucintamente e com tanto desprendimento sobre qualquer assunto, mesmo que muito pessoal. De exorcizar algumas coisas que se tornam fantasmas nas minhas meninges e me enevoam as sinapses. Mas não sou capaz de me expor assim tanto. Nada do que aqui escrevo é falso, mas não escrevo sobre tudo o que me diz respeito. Não tenho que me revelar por completo - excepto a quem realmente quero.
Escrevo sem recados escondidos mas por vezes com mensagens expressas e dizendo as mesmas coisas que diria se estivesse à frente dos destinatários dessas mensagens. A diferença é que frente a frente há toda uma paleta de gestos, olhares, franzires de sobrolho, risos e sorrisos em infinitas nuances. Num texto corrido não há nada disso, e acabo por escrever e escrever e escrever até sentir que verti tudo o que tinha dentro do peito.
Ainda assim, há coisas sobre as quais opto por não escrever. Coisas que não podem ser escritas num post-it e coladas numa parede virtual. Coisas que, a serem ditas, têm mesmo que o ser cara a cara. Ou caladas bem fundo. Não é que seja 'púdica' ou que ache que alguns assuntos sejam tabu. Frente a frente falo de olhos nos olhos e quem me conhece sabe que sou assim.
Esses poucos a quem abro o meu sanctum sanctorum, conhecem-me as alegrias e as tristezas, os risos e as lágrimas, sabem a que altitude voa o meu espírito e por que ruas os lobos me perseguem. Sabem como fazer-me rir ou pensar. Sabem quando preciso de uma gargalhada, uma belinha na testa ou um abraço silencioso. Sabem sem que eu o diga por extenso e chegam-se à frente dizendo "estou aqui". Sabem quando tenho um nó na garganta, quando a solidão ataca sorrateiramente como um ninja, quando os velhos demónios se atiram à minha jugular e me deixam caída de joelhos, tremente. Conhecem as minhas cartas náuticas e basta alguns pontos satnav para saberem quando estou a navegar com vento de popa ou à bolina - ou quando estou apenas encostada ao traquete a olhar para as estrelas, quase à deriva, em busca do caminho que me leve até casa - esse lugar doce, seguro e envolvente como um ninho para onde não posso regressar.
Sem comentários:
Enviar um comentário