segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Tudo

Autodenominamo-nos seres racionais, mas a verdade é que tendemos a simplificar em demasia algumas questões. A lógica racionaliza muitas coisas, mas algumas não se podem simplificar ao extremo sob pena de se cair numa falácia.

Que exemplo melhor do que “Tudo vs. Nada”?

Se perguntarmos a uma criança qual é o contrário de “tudo”, a resposta será, quase seguramente, “nada”. E à primeira vista isto parece perfeitamente lógico...
Mas desenganem-se aqueles que pensam que isto é uma verdade absoluta, baseando-se em coisas como o ciclo lunar – o disco iluminado opondo-se ao apagado, o falso vazio que antecede novo recrudescer rumo à plenitude de prata.

Quem tenha estudado os fundamentos da Lógica (normalmente no âmbito da matemática) sabe bem que não é assim.
A negação de “tudo” não é realmente “nada” – mas tão simplesmente “nem tudo”. No extremo oposto, o inverso de “nada” é “alguma coisa”.

No fundo, se nos detivermos a pensar um pouco mais sobre isto, até sabemos que é assim; quando confortamos alguém que nos diz “estou triste, não tenho nada”, a resposta não é “errado, tens tudo” mas sim “não é verdade, tens alguma coisa”. E quando alguém afirma (quantas vezes de forma impante) “eu tenho tudo!”, a reacção dos discordantes não é contrariar dizendo “bah, não tens nada!”... é antes dizendo “olha que na realidade não tens mesmo tudo...”
Contrariar é, afinal, uma reacção humana de “nivelamento”. Com o mesmo tipo de atitude baseada na lógica, elevamos quem se sente em baixo, e puxamos para baixo quem se coloca em cima.

Bom, isto não passa na realidade de um preâmbulo demasiado extenso para falar de emoções, relações humanas, escolhas e porquês.

Ao abordar uma relação a dois, há várias aproximações. Há quem tente conjugar o maior número possível de factores que considere fundamentais, com a plena consciência de que é virtualmente impossível conseguir “o pleno” (não vou discutir as probabilidades do Euromilhões porque ando destreinada de cálculo de Combinações, Arranjos e Factoriais); há quem pense que um só é o suficiente; e há quem ache que todos têm o seu grau de importância mas dando primazia a um factor acima de todos os outros, a ponto de os suplantar.

Uns contentam-se, em teoria, com “amor e uma cabana” – até começarem a acumular-se as contas para pagar. Outros concentram-se na estabilidade financeira e relacional até se aperceberem de que falta ali uma pitadinha de um tempero qualquer para dar sabor.
As prioridades variam de pessoa para pessoa, de casal para casal.

Àqueles que dizem que o romance é tudo e a compatibilidade física é sobrevalorizada, respondo que além das prioridades há necessidades humanas a serem supridas, e que se isso não suceder há o sério risco de:
a) um dos membros anular essas necessidades em favor do outro (a bem da suposta “estabilidade”);
b) a relação ir-se desgastando até chegar ao fim;
c) o membro cujas necessidades não estão a ser supridas procurar fora da relação a forma de o fazer.

Quanto aos que dizem que o sexo é fundamental, riposto dizendo que é importante, sim, como parte do todo mas não a peça sem a qual nada vale a pena – para isso chegam bem as ditas amizades coloridas ou os inúmeros elementos de ambos os géneros que se dedicam profissionalmente a suprir essa necessidade a quem os procura.


Bottomline? Simples.
Se me perguntarem se o amor, a ternura, o companheirismo, a compatibilidade intelectual, o sexo, não são “nada”, respondo de forma franca e directa “claro que são alguma coisa, são importantes no seu conjunto – mas individualmente nenhum deles é tudo...”

.....

Eis finalmente a prova de que, ao invés dos que são "darks", sou assumidamente geek: misturei no mesmo texto a Lua, lógica, Euromilhões, factoriais e sexo. Acho que sou um caso perdido ;)

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