A expressão "sentir um vazio" remete-me invariavelmente para a BD – Obélix dizia isto nas suas incontáveis ocasiões de fome, apontando para o vasto estômago.
"Sentir um vazio". Vazio é quando algo simplesmente não está. Se não está, não se sente. Pode-se é dizer que se sente que falta qualquer coisa – e às vezes não se sabe bem o quê. Outras até se sabe bem demais. Mas o que se sente então?
Sente-se o espaço em branco, o volumoso nada que preencheu o lugar onde antes estava algo que entretanto desapareceu. Já sei, agora perguntam-me: o nada vê-se? Sente-se?
De facto não se vê. Não se sente. Mas quando sabemos exactamente o que perdemos, sabemos o tamanho, o volume, o sabor e a forma do nada que entretanto surgiu naquele sítio específico da nossa vida. Não o podemos sentir – pois não. Mas sabemo-lo com todos os sentidos, os que sentiam "antes" e que agora só encontram o tal vazio. Talvez seja por isso que dizemos que "sentimos um vazio". Porque os sentidos vão à procura do que lhes era familiar e deparam-se com o nada.
Pode ter a forma de uma pessoa, de um animal, de um objecto. Pode ter o peso de um sentimento ou o volume de uma ideia. São as nossas memórias, as recordações guardadas pelos nossos sentidos que definem o vazio – o tal que se sente quando se deixou de sentir.
E é por lá que muitas vezes os nossos olhos se perdem quando tentamos reter essas memórias às vezes agri-doces.
"Estás cá com uma cara ... passa-se alguma coisa?"
"Não"
"Não acredito. O que foi? O que tens?"
"Nada"
(Sorrio para dentro, um sorriso secreto e amargo que sem palavras suspira: "Se ao menos soubesses ...")
"Nada, mesmo"
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