quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

The Fabric of Our Lives - I

Diz-se que a experiência forma o carácter de cada um. O que vivemos desde a infância, bom ou mau, e a forma como reagimos a isso, faz de nós as pessoas que somos a cada momento.

Numa altura em que atravesso um período bastante complicado da minha vida, vêm-me à memória recordações de uma infância e adolescência nem sempre fáceis, mas que ultrapassei o melhor que pude. Alguém que me é muito próximo diz-me com frequência: “This too shall pass… better days will come.” Eu sorrio, porque ela sabe o que é estar onde eu estou, olhando em volta sem antever grandes perspectivas de melhoras. E se alguém que passou por momentos bem mais difíceis do que eu consegue ter uma visão tão positiva… diabos me levem se eu não serei capaz de fazer o mesmo.

Tenho quarenta e três anos, um emprego pouco seguro, uma carreira de sucesso mediano, uma vida construída com esforço. Bens materiais? Alguns, não muitos - dos quais terei provavelmente que me desfazer. Mas ao pensar nas tais recordações de infância isso não me assusta.
Cresci numa família onde o dinheiro não abundava. O que havia era para as nossas necessidades básicas, mas com o que sobrava permitiamo-nos pequeninos luxos: livros e discos. Enquanto outras pessoas iam passar férias fora, eu passava férias em locais exóticos na minha imaginação ou em períodos históricos interessantes, ouvindo a orquestra de James Last, o trompete de Nini Rosso, o piano de Richard Clayderman, Demis Roussos, Nana Mouskouri, a Royal Philarmonica ou árias diversas. Li Robin Hood aos oito anos, Quo Vadis aos dez, Guerra e Paz aos onze… e ao longo da adolescência juntaram-se-lhes Ivanhoe, Ulenspiegel, Cinq Mars, Os Miseráveis, O Vermelho e o Negro, Madame Bovary, Mickey, Tio Patinhas, Astérix, Michel Vaillant. A estes somaram-se ainda todos os livros que requisitava nas carrinhas-biblioteca itinerantes da Fundação Gulbenkian… Tolkien, Michener, as irmãs Brontë, Remarque, Sven Hassel foram autores que de outra forma talvez não tivesse conhecido.

Com o meu pai, discreto empregado bancário, nasceu em mim a fascinação pela Ficção Científica, um amor que perdura até hoje: foi ele quem me levou ao cinema para ver O Abismo Negro e 2001, Odisseia no Espaço. Foi também ele quem me ‘apresentou’ Carl Sagan ao oferecer-me o livro “Contacto”. Por todas as formas com que alimentou a minha imaginação irrequieta, tenho mais a agradecer-lhe do que alguma vez poderá imaginar.

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