quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

The Fabric of Our Lives - III

Quando me tornei mãe, quis que os filhos pudessem ter memórias igualmente preciosas para guardar.
Uma ida à praça com a minha filha para comprar pão quente transformava-se numa excursão por todos muretes dos canteiros da avenida, contando os bichinhos-de-conta que encontrávamos pelo caminho. O pão chegava a casa já frio, e nós com enormes sorrisos.

Com ela, criei o hábito da leitura ao deitar. Os livros da Rua Sésamo eram lidos em voz alta, com todas as vozes imitadas o melhor que se podia – ainda hoje sou um Becas espectacular e um Gualter aceitável.

Quando me divorciei da primeira vez, ficámos sozinhas mas não deixámos que a tristeza se instalasse. Um serão em que a electricidade faltou foi pretexto para um jantar à luz das velas. Nunca um prato de douradinhos de peixe com batatas fritas foi motivo para tanta risota.

Quando nasceu o irmão, a minha filha tentou ser ‘a melhor irmã do mundo’. Rodeava o bebé de peluches para que, se rebolasse, não caísse. Num daqueles parques infantis com os lados feitos de rede, fez buraquinhos com uma tesoura para que o irmão pudesse trepar e ‘libertar-se’.
As sessões de Rua Sésamo passaram a ser a três, e as gargalhadas do meu filho eram memoráveis. Um livro do Winnie the Pooh deu direito a incontáveis reboladelas na cama: na história, o tonto do ursinho imaginou ser uma abóbora a rebolar ladeira abaixo e, claro, o garoto quis imitá-lo. Resultado: mais gargalhadas, que ele repete cada vez que se recorda.

Num passatempo, obtivemos uma PS3. Os momentos que ficam não são com os jogos lhe foram oferecidos nos aniversários e natais seguintes; são as nossas sessões de tiroteio contra robots malévolos e gangsters perigosos no meio de filmes imaginários (em que nos revezamos a disparar contra o écran) ou os avatares idiotas que escolhemos para os quizzes musicais.
Uma ida a uma conhecida loja de artigos desportivos para comprar um par de ténis de futsal deu direito a uma sessão de toques na bola no meio do corredor da loja.


Tal como durante o meu período de crescimento, os momentos mais memoráveis não são nem serão aqueles proporcionados por coisas que comprámos – mas sim por aquilo que fizemos e pela alegria de que disfrutámos e partilhámos.


O que estou a viver agora vai ajudar a moldar o carácter dos meus filhos. Faço o melhor que posso para que não sejam demasiado afectados pelas ondas negativas que se alastram malgrado os meus esforços – mas eles conhecem as dificuldades e dão todo o apoio que está ao seu alcance, pequeno ou grande.
Neles, na família e nos amigos próximos (a quem alguém chamou um dia ‘a família que escolhemos’) encontro todos os dias a coragem para prosseguir.

Um dia de cada vez.

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