Em tempos antecipei o prazer de estar só, de fazer do meu tempo tudo o que me aprouvesse... até que chegaste. Numa perfeita tempestade, com a brevidade do clarão de um relâmpago e o incontido fragor de um trovão, inverteste-me a polaridade do sentimento. E como uma tempestade partiste.
És agora um fantasma nos meus dias, intangível presença cujos sinais se evaporaram com um simples clique.
Pelas quatro dimensões que um dia iluminaste alastra-se agora um impalpável mar cinzento cujas ondas imóveis parecem talhadas em pedra.
Quando tento mover-me, tropeço na imponderabilidade da tua ausência e agarro-me ao único vestígio sólido que me ficou, para evitar cair no vazio que deixaste; o mesmo de onde as memórias recusam aproximar-se com receio de desaparecerem também.
Desvaneceram-se para ti todos os meus ecos, sugados pelo buraco negro que criaste ao franzir o espaço-tempo onde por breves momentos existi na tua vida.
Tornei-me invisível ao teu espectrómetro.
Nunca se regressa de um buraco negro, pois não?
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