quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

The Fabric of Our Lives - II

Foi essa imaginação irrequieta que me ajudou a inventar brincadeiras sem muitos brinquedos. Na escola, rolos vazios de fita-cola eram phasers do Espaço 1999. As mesas da sala de aula, deitadas, eram naus dos Descobrimentos.

Pensando bem, nunca tive brincadeiras tipicamente ‘de menina’… A minha irmã, onze anos mais nova, tinha Barriguitas e Barbies. Eu tinha os Exin Castillos com que construía fortalezas medievais e os conjuntos Meccano com que fazia guindastes e carros para as bonecas dela. De embalagens de iogurte vazias fazia casinhas para a Heidi e os Estrunfes de PVC, e os dias de mudar os lençóis das nossas camas significavam tendas árabes armadas junto ao canto do roupeiro – os cobertores eram puffs e as fronhas davam excelentes turbantes.

O meu pai tinha como passatempo a pesca desportiva. Percorri os ‘pontos piscatórios’ da costa Sintra-Cascais de cana na mão, trepando rochedos, aprendendo a empatar anzóis e perdendo o asco a minhocas que se retorciam no meio das algas que as mantinham húmidas. Nas férias, acampava na costa alentejana, e numa noite de temporal conhecemos um jovem canadiano que se abrigou da chuva no “alpendre” da nossa tenda de dois quartos. Aprendi a grelhar peixe e descascar batatas ao ar livre – mas por incrível que pareça nunca aprendi a nadar decentemente...

Durante o tempo de aulas subia às árvores, fazia corridas de bicicleta, jogava volley no pátio das traseiras, jogos de cartas ou Monopólio no vão das escadas de casa dos amigos. Nada disto requeria que gastássemos dinheiro para nos divertirmos, e são essas as memórias que perduram.

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